Irineu Evangelista de Souza, o Visconde de Mauá, é criador da primeira grande indústria brasileira – a fundição e estaleiro de Ponta de Areia, em Niterói -, da primeira estrada de ferro, do primeiro grande banco, e da primeira companhia de navegação regular do rio Amazonas.
Estendeu sua influência do Norte ao Sul do Brasil, chegando ao Uruguai, à Argentina e a Londres. Suas iniciativas levaram a iluminação a gás às ruas do Rio de Janeiro, uniram o Brasil à Europa pelo cabo submarino do telégrafo. Contador, economista, administrador de empresas, deputado, legislador e diplomata informal do Império, ele foi, antes de tudo, o primeiro e o maior dos empresários brasileiros.
Linha do tempo
- Nasceu no Rio Grande do Sul e faleceu no Rio de Janeiro.
- Aos seis anos perdeu o pai e, com oito, sua mãe o mandou para o Rio de Janeiro. Na viagem, Irineu foi acompanhado por um tio.
- Aos nove anos, começou a trabalhar para um comerciante português. Fez de tudo: serviços gerais, arrumação de estantes, caixeiro da loja e registros dos cálculos nos livros dos juros. Iniciou seu estudo de diversas línguas e aprendeu caligrafia, noções de direito comercial, cálculo de juros e contabilidade.
- Com catorze anos já comandava a tesouraria da empresa, autorizava compras e guardava a chave do cofre.
- Em 1840, decidiu se transformar em industrial e partiu do Rio, em um veleiro, rumo à Grã-Bretanha, onde a primeira estrada de ferro comercial do mundo havia sido construída em 1830, ligando as cidades de Liverpool e Manchester.
- Visitou usinas siderúrgicas, tecelagens, fábricas de teares, ferrovias, casas comerciais e bancos.
É considerado o primeiro e o maior dos empresários brasileiros.
Principais realizações
- Fábrica de fundição de ferro de Ponta de Areia, em Niterói;
- Companhia de Navegação da Amazônia;
- Banco do Brasil de Mauá;
- Companhia de Iluminação a Gás;
- Estrada de Ferro de Petrópolis;
- Abertura da Mauá, Mac Gregor & Cia. na rua Greesham, junto à bolsa de Londres;
- Banco Mauá em Montevidéu (Uruguai) e em Rosário (Argentina);
- Empresa San Paulo Railway (a futura Estrada de Ferro Santos-Jundiaí);
- Companhia Agrícola e Pastoril, no Uruguai;
- Fábrica de cozimento e acondicionamento de carne, no Uruguai.
Ações
Companhia de Navegação do Amazonas (a primeira da região Norte). Estrada de Ferro de Petrópolis (a primeira estrada de ferro do País).
Empresa San Paulo Railway (a futura Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, ligando as principais fazendas da região ao porto de Santos). Em 1845, percebendo as oportunidades que adviriam da aplicação da Lei Alves Branco, que sobretaxava produtos importados, “Irineu liquidou todos os seus negócios comerciais e iniciou novas atividades adquirindo de Carlos Colleman uma pequena fundição vizinha a um estaleiro de Niterói”. Faziam parte da transação o terreno e os prédios, máquinas, equipamentos e 28 escravos. Após cinco anos, o empreendimento já era considerado o mais importante estabelecimento fabril do Império.
Na década de 1850, o governo lançou convite aos empresários brasileiros para a promoção da navegação regular no rio Amazonas, antes que estrangeiros assumissem a primazia. Mauá foi o único a aceitar o desafio, criando a Companhia de Navegação do Amazonas. Em troca, recebeu o monopólio por 30 anos e um subsídio anual de 120 contos.
Março de 1851: Preside a primeira reunião dos acionistas do Banco do Brasil. O lançamento tem êxito imediato, começando com um capital de dez mil contos de réis.
1852: Companhia de Iluminação a Gás.
A fábrica de fundição de ferro Ponta de Areia, em Niterói, é considerada o estabelecimento fabril mais importante do Império. Centenas de empregados produzem uma série de itens que antes eram importados da Europa: peças de maquinismos, caldeiras para máquinas a vapor, engenhos de açúcar, guindastes, molinetes, tubos de ferro para o encanamento do Rio de Janeiro etc. Na realidade, os tubos para encanamentos de água constituem a base da economia da empresa.
A sua maneira de administrar se baseava na capacidade de se concentrar no essencial, dando uma larga autonomia a seus subordinados. A eles, escrevia até 20 cartas por dia, com instruções gerenciais e comentários sobre política e economia, capacitando-os a tomar decisões.
As correspondências entre Belém e o Rio levavam dois meses entre ida e volta. Também era especialista em análise de balanço, identificando rapidamente qualquer problema. Tinha por inclinação a descentralização; pagava excelentes salários e ajudava seus funcionários a montar negócios próprios.
Na criação da fábrica de Ponta de Areia, foi auxiliado pelo sócio e amigo Reynell de Castro, que morava na Inglaterra. Lá, Reynell organizou uma equipe para trabalhar no Brasil, formada por um engenheiro, um mestre-maquinista, um mestre-modelador, quatro caldeireiros e seis moldadores.
No Rio de Janeiro, com base nos inúmeros catálogos que ia recebendo do exterior, o próprio Mauá escolhia e encomendava tornos, cadinhos, ferramentas e guindastes.
Um fator que colaborou para o sucesso da Fábrica de Ponta de Areia foi a encomenda, feita pelo governo, de tubos de encanamento de água para o Rio de Janeiro.
Em 30 de abril de 1854, ocorreu a inauguração da Imperial Estrada de Ferro de Petrópolis. Toda a nobreza brasileira, os principais ministros e D. Pedro II se reuniram no porto de Estrela, ao fundo da Baía de Guanabara, para a viagem inaugural. Por decreto imperial, D. Pedro II concede a Irineu o título de Barão de Mauá.
Em 1857, é chamado pelo ministro da Fazenda Bernardo de Souza Franco para recuperar o controle da política econômica — em crise bancária desde que o preço da libra havia despencado. O ministro passa o papel de agente financeiro do governo para a empresa de Mauá, que dá início a uma estratégia muito arriscada. Compra as libras existentes no mercado — então negociadas a 22,7 pence — com letras de câmbio no valor de 27 pence, que só poderiam ser apresentadas para cobrança após 90 dias. Sua expectativa era a de que, vencido este prazo, o valor da libra ultrapassasse os 27 pence. A estratégia de Mauá funciona e Souza Franco entra para a História como um grande ministro da Fazenda.
Em 1860, o governo aprovou, por decreto, os estatutos da Companhia de Navegação a Vapor do Amazonas e da Estrada de Ferro de Petrópolis, ampliando a concessão por mais 30 anos.
A pedido de D. Pedro II, organizou o lançamento da The Brazilian Submarine Cable Company, destinada a ligar o Brasil à Europa pelo telégrafo. Sem uma única ação no negócio, não ganhou dinheiro algum; entretanto, em recompensa, o imperador elevou seu título, de barão a visconde.
O conhecimento em contabilidade e permanente comunicação com os subordinados dos seus diversos empreendimentos lhe permitiram cuidar simultaneamente de dezessete empresas e saber, de pronto, o movimento contábil de cada uma.
O valor das moedas estrangeiras variava de região para região; Mauá comprava moeda onde estivesse mais barata, vendendo nos locais em que seu preço fosse maior ou que se esperava que estivesse maior no momento final das operações a termo.