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No ano de 1914, em plena caatinga, surge o lugarejo com o nome de Pedra, onde se materializa toda a força do empreendedorismo. O que vemos naquele cenário de mais de um século? Vemos um traçado moderno de ruas, com residências de bom padrão, em alvenaria, servidas por água, eletricidade e sistema de esgoto. Os seus moradores, operários bem vestidos e bem calçados, habituaram-se a não cuspir no chão e a não jogar lixo nas ruas. Eles dispõem de boas escolas para os filhos e, caso precisem, eles próprios frequentarão cursos grátis de alfabetização. Há também médicos e dentistas para atendê-los quando necessário. Os preços do comércio não aumentam em desarmonia com o poder aquisitivo. Violência zero, pois é cumprida a risca a regra que proíbe armas e modera, com máximo rigor, o consumo de cachaça.

O responsável por esta situação tão fiel ao lema Ordem e Progresso foi o pioneiro Delmiro Gouveia, que instalou em Pedra uma grande fábrica e deu vida nova ao povoado. Ele nasceu em 1863 e, em circunstâncias misteriosas, morreu com apenas 54 anos. Foi o mais inovador dos empresários nordestinos de seu tempo, tanto no aporte de tecnologias quanto na gestão de recursos humanos. Conhecido como o rei do comércio de couros, grande construtor imobiliário e de estradas, agricultor esclarecido, notabilizou-se, sobretudo, por ter instalado a primeira hidrelétrica do rio São Francisco. Como já dissemos, e não custa repetir, levou água, energia, empregos e novas possibilidades a uma região antes desolada, distante a 400 km de Maceió e 460 km de Recife. O lugarejo de cinco casas (existentes quando ele lá chegou) transformou-se na cidade que hoje leva seu nome. A concorrência entre a fábrica Estrela, de sua propriedade, e a empresa Machine Cottons entrou para a história empresarial brasileira e serve, até hoje, de bandeira nacionalista.

Linha do Tempo

  • Nasceu no Ceará, mas não se sabe ao certo em qual cidade.
  • A data de nascimento de Delmiro Gouveia é uma dúvida. Alguns afirmam que foi em 5 de junho de 1863; outros, em 6 de junho de 1866. Aos quatro anos perdeu o pai e, aos quinze anos, sua mãe. Teve uma irmã, Maria Augusta. Foi pai de três filhos.
  • Aprendeu a ler e a escrever em casa, com a mãe e o padrasto. Trabalhou desde os 15 anos. Foi bilheteiro, chefe de estação de trem no Recife, caixeiro viajante, ajudante de despachante. Estudou inglês por conta própria.
  • Em 1883, teve a primeira experiência no comércio de couros. Vendeu uma partida de peles de cabra e de carneiro na praça da cidade do Recife. O couro tinha, naquela época, uma utilidade maior do que hoje em dia: seu comércio era, então, uma atividade bastante lucrativa.
  • Depois de diversas atividades de sucesso – e alguns problemas – no mundo dos negócios, realizou uma importante experiência empresarial que lhe exigiu muita coragem e capacidade, pois contava com a desconfiança geral: criou, em pleno sertão alagoano, uma fábrica de linhas, a Linhas Estrela. Para isso, modificou o curso de rios, construiu açudes e hidrelétrica. Importou maquinário, fez estradas e trabalhou com a mão de obra da região – as mãos grossas dos sertanejos se mostraram competentes no manejo da produção fabril.

Os seus principais empreendimentos:

  • Refinaria e destilaria de açúcar;
  • Derby, empreendimento imobiliário;
  • Compra e venda de peles de cabras e carneiros;
  • Introdução do gado zebu e vacas holandesas;
  • Disseminação da palma;
  • Comércio de mamona e algodão;
  • Construção de açudes;
  • Construção de estradas;
  • Instalação da primeira hidrelétrica do rio São Francisco;
  • Iluminação elétrica;
  • Fábrica de linhas de costura;
  • Vila Operária de Pedra.

Ações

Em Pedra, Alagoas, introduz a palma – cactácea que sobrevive à seca e serve como alimento para o gado. Na região, é dos primeiros a levar reprodutores da raça Zebu e vacas holandesas para mestiçagem com o gado crioulo, dando origem às linhagens dos “Casteados” (para corte) e das “Tuninas” (para leite).

Compra e vende peles de cabras e carneiros; dissemina o comércio da mamona e do algodão. Nas viagens constantes ao interior, vai montando uma rede de fornecedores e também se tornando um importante elo entre os produtores do agreste e os compradores da capital. Mais que um vendedor, Delmiro Gouveia é um grande comprador.

Em 1898, é obtida a permissão para a construção do empreendimento imobiliário do Derby, com isenção de impostos e uma concessão de 25 anos. Ao final do período, as instalações seriam entregues ao município. Tão logo se alteram os nomes da política local, começam os desentendimentos em torno da construção do Derby.

1899: Em sociedade com José Maria Carneiro da Cunha, compra a refinaria e destilaria Beltrão.

1910: Constrói uma pequena hidrelétrica para alimentar uma fábrica de linhas de costura e a iluminação de Pedra, Alagoas, que nessa época já se transformara numa cidadezinha. Em Pedra, manda barrar riachos para a construção de açudes. Surgem, então, os açudes do Desvio e da Pedra Velha, trazendo melhorias para a região. Constrói a vila operária de Pedra. Sua autoridade era absoluta dentro da fábrica e na vila operária.

Investe na construção de 520 quilômetros de estradas: 24 km para Paulo Afonso, 20 km para Água Branca, 25 km até Mata Grande, 300 km até Quebrângulo (passando por Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios) e 151 km até Garanhuns (passando por Bom Conselho).

1º de julho de 1914: Inaugura, em Pedra, a Fábrica de Linhas Estrela, produtora de linhas para costura, bordado, crochê e malharia.

Acervo de Imagens