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Jorge Street

A grande inovação introduzida pelo industrial Jorge Street, no início do século XX, foi a abertura do diálogo com os sindicatos operários. Até então, sindicatos eram considerados como bando de agitadores e a chamada questão social, simples questão de polícia. Por suas posições pioneiras na área social, Street tornou-se conhecido como “empresário socialista” e “poeta da indústria”. Isso não impediu que organizasse suas empresas segundo uma estratégia arrojada e, na maioria das vezes, de imenso sucesso. Como porta-voz e líder de sua classe, defendeu durante décadas e com inusitado vigor a posição dos industriais no debate econômico do país.

Linha do tempo

Nasceu no Rio de Janeiro. Seu pai, Ernesto Street, era austríaco e veio ao Brasil, a convite do imperador D. Pedro II, para construir estradas de ferro. Teve sete filhos: três homens e quatro mulheres.

Jorge Street formou-se em Medicina e clinicou durante alguns anos, mas sem sucesso. Segundo seus familiares, não cobrava dos pobres porque eram pobres e dos clientes ricos porque eram amigos.

Em 1896, herdou do pai as ações da fábrica de tecelagem de juta São João, no Rio de Janeiro, entrando para a vida industrial. A sua primeira operação de vulto foi a aquisição da Fábrica Santana, em São Paulo.

Street apoiou diversos movimentos dos trabalhadores, como a importante greve de 1917. Defendia o diálogo entre empresários e trabalhadores, nada comum naquela época. Era uma liderança do mundo patronal.

Entre 1911 e 1916 construiu, nas vizinhanças de sua tecelagem Maria Zélia, uma vila para a moradia de seus empregados. O traçado e as edificações da vila seguiam o melhor padrão das cidades construídas na Europa no início do século XX.

A Vila Maria Zélia era uma pequena cidade: seis ruas principais e duas transversais; 198 casas de um, dois, três ou quatro quartos; farmácia e consultórios médicos e odontológicos; creche, jardim da infância, Escola dos Meninos e Escola das Meninas; armazém, açougue e restaurante; igreja, teatro, salão de baile, quadras esportivas e campo de futebol.

Em 1929 abandonou os negócios; então com 66 anos, iniciou carreira na área pública, como alto funcionário do Estado.

Seus empreendimentos mais importantes foram

  • Fábrica de tecelagem de juta São João, no Rio de Janeiro (1896);
  • Fábrica de tecelagem de juta Santana, no bairro do Brás, em São Paulo (1904);
  • Tecelagem de algodão e fábrica Maria Zélia, no bairro do Belenzinho, em São Paulo (1911);
  • Vila Maria Zélia (1916);

Ações

A fábrica Santana passou a contar com 15 mil fusos e 1.500 teares. No entanto, o maquinário precisava de reformas e de substituição: para isso, Street lançou títulos ao portador.

Contraiu novos empréstimos em 1911 para quitar os títulos de 1908 e utilizou o restante para a construção de uma tecelagem de algodão no Belenzinho. Em 1914, mais uma vez buscou novos empréstimos.

Em 1908, fechou a Fábrica São João, no Rio de Janeiro, e transferiu o maquinário para a Fábrica Santana, em São Paulo, comprada do conde Álvares Penteado em 1904 e sua primeira aquisição de grande vulto.

O momento era favorável: o Porto de Santos havia passado a concentrar as exportações, em detrimento do Rio de Janeiro.

O aumento das exportações ampliou a procura pelos sacos de juta. Em julho de 1917, quarenta mil trabalhadores entraram em greve e paralisaram a cidade de São Paulo. Street antecipou-se aos demais industriais e negociou diretamente com seus operários, aceitando a reivindicação de 20% de aumento salarial.

Várias empresas — como a Indústria Jafet, a São Paulo Alpargatas, a Tecelagem Ítalo-Brasileira e a Companhia Mecânica e Importadora — concordaram que a negociação era o exemplo a seguir e a única saída possível; algumas outras se mostraram a princípio resistentes.

A solução conciliatória acabou prevalecendo e, ao final da greve, Street afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo: “Os operários têm razão. É preciso confessar que são justas as suas reclamações”. A vila operária Maria Zélia foi construída ao se constatar que os operários não podiam trabalhar bem nas condições em que viviam (vivendo melhor, poderiam ser mais produtivos e gerar mais lucros para a empresa).

Street preferia aumentar mais os benefícios do que os salários, para que os operários não gastassem o dinheiro vivo com futilidades. 1924: Vende as ações que lhe davam o controle da Companhia Nacional de Tecidos de Juta — holding que abrigava as fábricas Santana e Maria Zélia.

Abre nova tecelagem de algodão, a Santa Celina. Em 1929, abandona os negócios. Recebeu o monopólio das importações de juta ao firmar um acordo com os ingleses, que tinham interesse em concentrar esse negócio em poucas mãos.

Assim, todas as compras destinadas aos fabricantes de São Paulo e Rio passaram a ser intermediadas por Street. Em 1926, substituiu Francisco Matarazzo na presidência do CIFTSP – Centro dos Industriais de Fiação e Tecelagem de São Paulo. Em 1929, aos 66 anos, iniciou nova carreira como alto funcionário do Estado. Dentre outras iniciativas, contribuiu para a elaboração de várias leis trabalhistas, inclusive aquela que regulou a sindicalização.

Ativo na liderança de organizações patronais desde os 37 anos, foi um dos fundadores, em 1928, do CIESP – Centro das Indústrias do Estado de São Paulo. Foi pioneiro na abertura do diálogo entre sindicatos e industriais – tradicionalmente, os industriais e a polícia desconfiavam de qualquer organização sindical, devido às ligações anarquistas de muitos operário.

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