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* Foto da capa: cena cotidiana em laboratório da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Data desconhecida – por volta de 1920/1930.

Construtores do legado que revolucionou a agricultura brasileira 

Marido e mulher trabalharam com dedicação e doaram parte de seus bens para fundar uma escola de agricultura que se tornaria referência no Brasil e no mundo

Competitivo no mercado internacional e um dos mais dinâmicos setores da economia, o agronegócio brasileiro do século 21 deve muito a Luiz de Queiroz, fundador e patrono da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), de Piracicaba (SP, um dos personagens destacados na exposição Pioneiros & Empreendedores: a saga do desenvolvimento no Brasil, aberta ao público até 1º de dezembro de 2019 no Centro de Referência em Inovação Sebrae, localizado no Palácio dos Campos Elíseos, em São Paulo.

Luiz de Queiroz e sua mulher, Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz, também destacada na exposição Pioneiros, foram tema de aula da professora Marly Perecin para a segunda turma do Curso de Atualização em Pioneirismo e Educação Empreendedora, voltado a professores do ensino técnico e fundamental, e gestores educacionais, no final de setembro, no Palácio dos Campos Elíseos. 

Marly Perecin, renomada historiadora de 82 anos, discorreu sobre a trajetória de Luiz de Queiroz e a criação da Esalq. Para ela, mais que um empreendedor, Luiz foi um semeador que plantou as sementes da escola que se tornaria referência no Brasil e no mundo e passaria a fazer parte da Universidade de São Paulo.

A professora Marly Perecin em palestra aos participantes da segunda turma do Curso de Atualização em Pioneirismo e Educação Empreendedora, atividade complementar da exposição Pioneiros & Empreendedores
A professora Marly Perecin e o curador da Exposição, Jacques Marcovitch, ao lado da figura de Luiz de Queiroz

A professora contou como era a vida em Piracicaba do final do Século 19. Uma cidade com cerca de doze mil habitantes, exemplo da sociedade escravocrata e desigual, retrato de um Brasil atrasado desse período. 

O processo de criação da escola não foi simples e demandou muitos sacrifícios de Luiz e Ermelinda. Ao retornar dos estudos na Europa, com 24 anos de idade, Luiz havia incorporado em sua forma de ver o mundo as ideias liberais e humanistas. No vigor da juventude, montou uma indústria têxtil, instalou a primeira linha telefônica de Piracicaba e foi graças a ele que a cidade conheceu a iluminação elétrica muito antes da capital paulista.

Abolicionista e republicano convicto, um tanto intransigente, logo tornou-se alvo de inimigos conservadores poderosos. Esse foi o principal entrave, que atrasou em anos o funcionamento da escola. A despeito de ter enfrentado inúmeros problemas, o empreendedor pioneiro foi radical na defesa do progresso e da liberdade para todos. A  Esalq serviu de modelo e inspiração para todo o conjunto de escolas de agricultura criadas posteriormente, que projetaram a ciência brasileira nessa área, em nível internacional de reconhecimento, no século seguinte à sua criação.  

Fachada da Escola de Agrigultura. Início do Séc. XX.

Marly Perecin ressaltou o papel desempenhado por Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz na realização do projeto da instituição que se tornaria a Esalq. Filha do conselheiro do Império Cristiano Ottoni, era uma figura à frente do seu tempo. “Numa época em que as mulheres se escondiam em casa e ficavam dois passos atrás do marido na rua, dona Ermelinda andava lado a lado com o esposo e lhe dava apoio nos negócios”, comportamento chocante para a sociedade piracicabana da época.

Luiz de Queiroz morreu aos 49 anos, antes de ver funcionar a escola superior de agricultura que sonhara em vida. Esse projeto já havia consumido boa parte de sua fortuna e de seu tempo, mas teve a decisiva ajuda de Ermelinda, que não só assumiu os negócios do marido como se tornou figura fundamental para a inauguração da escola agrícola que daria origem à Esalq.  “Ela foi uma mulher excepcional que não se furtava ao trabalho duro quando necessário”, pontuou a professora. 

Conta-se que dona Ermelinda teria, ela própria, bordado a primeira bandeira da Esalq. “Vasculhei a escola de alto a baixo, mas não encontrei nenhum vestígio dessa relíquia”, revelou a professora Marly, que brindou os participantes do curso com uma fala precisa sobre o contexto histórico da sociedade paulista na virada do século 20, a vida e o legado dos personagens retratados.

Colaboraram Alice Sosnowsky e Wilson Cardoso, participantes da segunda turma do Curso de Atualização em Pioneirismo e Educação Empreendedora.

O curso é parte do projeto de extensão universitária Pioneiros & Empreendedores. Saiba mais sobre essa e outras iniciativas educacionais, publicações e conteúdos.  


Sobre a Exposição

O Brasil reencontra os seus Pioneiros Empresariais em São Paulo no Palácio dos Campos Elíseos
Visitação até 1 de dezembro de 2019
Horário de Funcionamento: terça-feira a domingo, das 10h00 às 17h00

Entrada Franca.